

1º de maio:
Naçom e socialismo no contexto do neoliberalismo
e a globalizaçom
Antom Fente Parada.
Galiza, Maio 2008.
«Qual será aquele povo tão perdido,
que a si não seja mais afeiçoado
qu’a outro estranho e pouco conhecido?», António Ferreira.
Resumo: Desde a década dos setenta véu-se impondo umha nova ideologia dentro do bloco capitalista conhecida como neoliberalismo, a qual tivo o seu primeiro ensaio na ditadura militar de Augusto Pinochet em Chile. As suas teses venhem soterrar o keynessianismo e advogar por umha feroz globalizaçom, polo espólio dos recursos do planeta e a privatizaçom salvage, o que trai consigo a fim do chamado estado do bem-estar. No entanto, após a II Guerra Mundial, recrudesceu-se o auge do nacionalismo em aparente contradiçom co fenómeno da globalizaçom. Aliás, a caída do bloco soviético recrudesceu a ofensiva neoliberal e trouxo consigo novos ideologemas imperialistas como “A fim da história” de Fukuyama ou a morte das ideologias, que amordaçárom, aos movimentos de esquerda e/ou antissistema, à vez que neutralizárom às forças operárias tradicionais já só disfarçadas de vermelho nos seus sloganes.
1.- Intróito
Hogano, somos conscientes, sobretodo no estado espanhol, ainda que às avessas, do emprego do nacionalismo como arma ideológica. Porém, nom existe um único tipo de nacionalismo, posto que esta é umha palavra neutra que se deve adjectivar, positiva ou negativamente. Assí, ouvimos a cotío nacionalismo basco, separatistas ou nacionalistas, denominaçom desdenhosa empregada polo espanholismo (nacionalismo essencialista e burguês parido na Revoluçom francesa de 1779), mas note-se que sempre em plural e com conotaçons. De facto, a associaçom entre estado e naçom nasce no feito histórico que, tradicionalmente, se véu considerando como fito fundacional da Idade Contemporánea, na cronologia eurocéntrica.
As ideas da burguesia ilustrada propugnárom umha nova ideologia em que a legitimaçom do poder já nom partia de deus, coma no absolutismo, mas dos cidadaos, depositários da denominada soberania nacional. Isto supujo que as Cortes de Cádis (1812) tentaram aplicar um modelo mimético – do francês- e sentar os piares da futura naçom espanhola (fabricada nesta época, ainda que com precedentes nos Decretos de Nueva Planta de Felipe de Anjou no XVIII). No entanto, este nacionalismo identificava-se co marco dos reinos peninsulares em maos dos Borbons (Portugal independeu-se definitivamente em 1640) e, já que logo, adscreve-se um cidadao a umha ou outra naçom em funçom do território onde nasça, quer dizer, é um facto que se deriva da sua essência e nom como froito dumha opçom ou escolha pessoal.
No Estado espanhol, rastrejamos já oposiçons a este embrionário projecto, de mais ou menos intensidade, afinais do mesmo século XIX, ora desde as novas ideologias (socialismo utópico, marxismo...), ora desde essoutros territórios do Estado que tentavam elaborar um discurso nacional próprio (Beramendi, 2007), com o qual a burguesia nom só recrudesceu o discurso centralista, mas tamém aginha se decatou da necessidade de incrementar a vigiláncia sobre dos povos trabalhadores colonizados, saqueados economicamente pola burguesia dos estado-naçons e logo através desta polo Imperialismo, pois
«a burguesia tamém abandonou o seu anterior nacionalismo e converteu-se num fiel peom do Imperialismo. Os camponeses de todo o mundo, por último, fôrom virando cara a esquerda e cara os processos de libertaçom nacional, sabedores de que nom havia umha outra alternativa para sobreviver frente ao Imperialismo» (San Vicente, 2008:8).
No entanto, a burguesia empregou o discurso nacionalista-essencialista para alhear à classe trabalhadora e botando mao dos mitos e do irracional soterrar a loita de classes. Assí pois, o espanholismo botou mao, tradicionalmente, de duas vias ideológicas, no fundo convergentes, para atafegar às naçons sem estado nem autogoverno; dumha banda, apoiou-se no mito histórico, o irracional e a inventio de Espanha, transposiçom da cultura castelhano-andaluza à totalidade do Estado, doutra banda, empregou o recurso a um hipócrita internacionalismo, cujo único fim era perpetuar a aceitaçom da naçom espanhola face as restantes naçons do Estado sob um discurso progressista e, nos nossos dias, justificar o empório económico dum dos centros do Imperialismo: a UE, aliança da grande burguesia, afastada de qualquer formulaçom dumha unidade supranacional baseada na Europa dos povos e nom do mercado.
O recurso aos mitos é umha constante em toda a história de Espanha e, de facto, nas ensonhaçons imperialistas de Castela a naçom espanhola retrotrai-se praticamente até Atapuerca. Mas, a mitologia histórica acadou o seu zénite durante a ditadura do general Franco, coa conseguinte sobrevivência de crenças irracionais e falsas nos nosso dias. Mas que sejam verdadeiras ou nom é irrelevante, pois os mitos no fundo actuam como fórmulas de coesom social e por trás deles palpitam ideologemas ao serviço do nacionalismo espanhol, ou seja, do espanholismo. A sua paranóia, o seu delírio e a sua megalomania tenhem múltiplas manifestaçons, por exemplo, a que expom Kamen (2006: 262):
«O jornal espanhol El País, meio permanentemente entusiasta do imperialismo cultural, proclamou de maneira delirante em 2000 que “por volta de quatrocentos milhons de pessoas falam hoje castelhano no mundo”(...). A ressonáncia que isto tem no contexto do presente ensaio é aclarar que os conceitos de universalidade e da “língua de Cervantes” surgem da profunda frustraçom que experimentou Espanha a partir do século XIX, e que nom desempenhárom um papel significativo no cenário cultural de Espanha de começos da Idade Moderna, momento em que os idiomas da Península coexistiam em relativa harmonia».
2.- É pertinente falar de naçom num discurso de esquerdas? O emprego dos ideologemas “nacionalistas” pola direita e o capital
«Lenin, di que nom se pode menos de reconhecer o sacro direito dos povos a dispor de si mesmos, e que nom hai nengum princípio liberal que justifique a oposiçom ao desejo dum povo de ser ceive e de governar-se a si mesmo pola sua própria vontade segundo as condiçons e segundo a própria natureza» Ramom Vilar Ponte (Blanco Echauri 2006:59).
Caberia começar aqui fazendo umha referência ao discurso de ingresso de Ramom Vilar Ponte no Seminário de Estudos Galegos, em 1927, intitulado “O sentimento nazonalista e o internazonalismo”, discurso que traceja já o verdadeiro sentido ideológico do nacionalismo galego. Efectivamente, podemos afirmar que é a primeira vez que se tenta conciliar, sistematicamente, a doutrina nacionalista, em quanto defesa dumha naçom conformada por um povo explorado por elementos alheos, coas doutrinas mais progressistas e radicais na altura, leia-se o marxismo. Destarte, nota que nom hai nengumha possibilidade de atingir sucesso na loita de classes sem o referente nacional, pois a classe trabalhadora nom é um ente abstracto, senom que deve realizar-se num meio sócio-cultural. Este meio afunda as suas raízes inclusive por cima do capitalismo industrial, quer dizer, a emancipaçom nacional é indissolúvel da emancipaçom social e, portanto, nom pode haver um projecto de libertaçom nacional a sério sem posicionamentos esquerdistas, como nom pode haver umha Galiza encardinada no socialismo sem umha defesa dum referente nacional próprio. Todo o demais é alheaçom parida polo Imperialismo, na face burguesa e na face essencialista e/ou meseteira do espanholismo, frente à que o galeguismo histórico apresentou um projecto alternativo, a sério e centrado na emancipaçom nacional e social do povo galego. Poderia-se resumir o esforço do Ressurgimento ou Ressurdimento (Rexurdimento), das Irmandades da Fala e dos homes de Nós cumha cita de Mark Twain:
«Um home cumha idea nova é um tolo. Até que a idea triunfa».
Bibliografia
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