Polo presente crónica faremos umha síntese das achegas de Camilo Nogueira, ex parlamentário europeu polo BNG; Ugia Senlhe, música de reconhecido prestigio; e Elias Torres Feijoo, vice-reitor da USC e professor do departamento de Filologia Portuguesa no primeiro Foro Social Galego celebrado os dias 5, 6 e 7 de Dezembro de 2008 na Faculdade de Filologia e no Auditório de Galiza de Compostela.
Mas, que é que é o FSGal? O Foro Social Galego procurou, procura e procurará ubicar a Galiza no contexto dos Foros Sociais Mundiais (FSM), cuja próxima ediçom será no estado de Pará (Brasil) o vindouro 2009, à vez que tenta pensar e construir alternativas desde Galiza, de jeito que a acçom local das entidades sociais poda exercer umha pressom coordenada contra a vaga neliberal e afundar nas alternativas ao sistema assassino denominado capitalismo, na fase mais desenvolvida do Imperialismo, já retratado por Lenine a começos de século XX. Os FSGal é um espaço de debate democrático onde os diversos movimentos sociais podam trocar experiências e ideias para responder à urgente pergunta do que fazer. As suas principais senhas de identidade som a pluralidade e a diversidade, polo que nem é confessional, nem governamental, nem partidário.
Camilo Nogueira
A diversidade nacional foi-se incorporando ao altermundismo e incorporou-se de cheio ao Foro Social Europeio celebrado em Mälmo (2008) e entrará tamém no próximo FSM de Belém (Pará, Brasil). Isto trai consigo radicar a Galiza no mundo como naçom e nom como um simples apêndice do Estado espanhol, co que rem tem a ver a nossa história e a nossa cultura, e que tam só contribui a esluir os nossos traços nacionais, incómodos para os interesses da classe burguesa espanholista, forma peninsular do Imperialismo mundial.
Galiza é hoje a primeira exportadora e importadora de Portugal e tem mais relaçom co país luso do que co resto de qualquer parte do Estado espanhol. Historicamente, Galiza nom tem nada a ver coa mitologia historiográfica do Estado espanhol e os laços culturais com Portugal som igualmente indubitáveis sendo galego e português duas variantes dum mesmo diassistema lingüístico.
Um dos países emergentes hogano é Brasil, centro de vários Foros Sociais Mundiais o que eliminou qualquer atranco na comunicaçom para Galiza e a sua representaçom. O espanholismo está por detrás das mentalidades isolacionistas que destrói a unidade e a capacidade de intercomunicaçom e umha arma valiosa para balizar e defender a nossa língua. Assí, o galego nom pode considerar-se umha língua minoritária, senom que está no mundo como língua intercontinental, só resta que o próprio povo galego assuma a missom de voltar topar-se coas suas raízes para achar o seu futuro.
Ugia Senlha
Devemos reconhecer-nos dentro da língua comum, do espaço da lusofonia, e a música é umha boa arma para conseguí-lo. Ainda que em Portugal nom admitem a unidade lingüística polos preconceitos de pertencer Galiza ao Estado espanhol, cujo imperialismo ameaçou a soberania lusa[1], o certo é que revela-se necessário ir-se “confundindo”, como dizia Castelao, e superando velhos anátemas que surgem do desconhecimento.
Cantos na Maré[2], festival da lusofonia celebrado em Ponte Vedra, é um jeito concreto de apostar polo intercámbio artístico e cultural co que a Galiza só pode ganhar. Já som seis anos desta experiência cumha programaçom activa que possibilita a projecçom da Galiza para a lusofonia e como espaço humano e nacional aberto ao mundo. Zeca Afonso foi, neste sentido, um activista que tendeu pontes entre a Galiza e a república de Portugal. Actualmente, estám-se dando importantes passos de achegamento, sobretodo, co Norte do país vizinho.
A cultura galega adquire assí novos horizontes e projecçons e só tem a ganhar, rem a perder. Guardando deste modo os nossos valores identitários e situando-os no mundo.
Elias Torres Feijoo
A Galiza vive umha autarquia moi precária, sobretodo, no mundo cultural que tam só se palia através do mundo cultural espanhol. Isto por vezes nem tam sequer se dilucida por estar a situaçom já interiorizada pola ocupaçom secular da nossa naçom.
Esse espanholismo tem efeitos sobre a nossa identidade, sobre o que nos somos, e tem efeitos sobre a nossa concepçom do mundo que vemos quase com lentes espanhóis: ordenamos o tempo e construímos a realidade desde as directrizes do mundo cultural espanhol. Existem incluso subtis proibiçons para evitar iniciativas ou capacidades de interrelaçom cos países da lusofonia. Subvencionam-se jornais quase integramente em castelhano por apresentar algum que outro paragrafo marginal em galego grafado à espanhola, enquanto o Novas da Galiza nom recebe um peso por apostar pola ortografia históricista.
Hai crenças que a força de serem repetidas acabam interiorizando-se. A norma regeneracionista utiliza todos os instrumentos do nosso diassistema galego e mesmamente foi e é gerada no seio da própria Galiza, umha norma dinámica e dialéctica, carregada de futuro, que se afasta do estatismo e do «separatismo das aldeias»[3] proclamada como sacrossanta, qual constituiçom espanhola, polo binómio autonomista RAG-ILG e o espanholismo personificado primeiro na UCD, logo em Aliança Popular e ainda hoje sob o PSOE fijo todo o possível para frenar qualquer tentativa de permissividade os debate a sério entre isolacionistas e reintegracionistas.
Resulta nesta altura evidente que hai um centro de domínio cultural que os poderes nom querem de nengumha maneira abandonar, pois suporia abrir caminhos e horizontes para Galiza e as suas gentes. Temos de aprender os extraordinários benefícios que pode supor ser a cabeça de ponte da África lusófona e do Brasil em Europa, junto a já assentada relaçom galego-portuguesa.
Só regenerando a nossa língua e inserindo-nos no nosso próprio diassistema podemos superar a nossa autarquia cultural.
Bate-papo
Cumpre umha prática de pedagogia política que faga ver à cidadania que ou reintegramos e regeneramos a língua ou a desintegramos e a patoizamos a respeito do espanhol, como salientava Carvalho Calero. O lusismo é pôr de manifesto como a espanholizaçom fai negar à própria Galiza o seu carácter, de aí a resistência da Galiza e a resistência incluso de Portugal.
O galego moderno, culto, mais cultivado é o português. No novo Estatuto de naçom deveria-se incluir que nas relaçons internacionais se deverá empregar o português cos PALOP's, algo perfeitamente possível no actual marco legal, junto à recepçom das televisons portuguesas na Galiza; no entanto, duvidamos que mesmo o BNG tenha isto como algo urgente na sua agenda política, pois a impostura e a desorientaçom dominam a sua postura perante a língua[4].
Aliás, 17% do PIB português tem relaçom directa coa língua comum, o qual repercutiria positivamente na nossa economia, algo que bate com realidades irrisórias como que na TVG se legendem as intervençons de portugueses e brasileiros. Como tem assinalado o Alexandre Barros «as balizas mais importantes hoje do espanholismo estám nas elites da Galiza».
Camilo Nogueira
A identificaçom entre o galego e o português, já defendida por homes como Murguia ou Castelao, tem como benefício a auto-estima e favoreceria umhas relaçons em galego português e nom em castelhano e isso traduze-se em conseqüências económicas sem depender permanentemente da metrópole. A regeneraçom e a reintegraçom espertaria aos galegos e às galegas e Galiza pensaria-se a si própria e assinalaria-se no mundo sem fazê-lo permanente como província ou colónia espanhola.
O galego é a língua nacional da Galiza e o português é a forma internacional da nossa própria língua, embora sendo iguais sejamos diferentes com traços de nosso. A RAG deveria reconhecer que Brasil e Portugal falam galego (e vice-versa) e hoje nas palestras de língua galega deveriam ensinar-se divergências e semelhanças entre a norma galega e o padrom do Acordo Ortográfico.
Elias Torres
O movimento reintegracionista é um movimento unificador, o isolacionista desagregador, pois tam só afunda nas diferenças e que fai dos geolectalismos a sua bandeira. Os próprio galegos forçam a brasileiros e portugueses a considerar a sua língua como nom válida na Galiza, ao serem tratados em espanhol e como estrangeiros nom apenas nacionais, mas tamém culturais. Na Galiza nom existem estudos da cultura e o seu influxo na economia, porque nom som promovidos. Nos estudos elaborados desde a resistência vê-se como a mentalidade espanholizante reside fortemente na Galiza. Umha comunidade tem umha séria de recursos, a sua energia, e os destinados à cultura autárquica de pouparem-se poderiam inverter-se em publicitar produtos e obter milhons de euros em contrapartida. No entanto, o governo galego nom se tem interessado por estes estudos nem os vai promover, embora sejam essenciais para alentar o bem-estar da nossa naçom.
Galiza hoje poderia promocionar autores literários, musicais, etc. para toda Europa e actura assí como cabeça de ponte cultural e, aliás, ampliar isto logo a todos os produtos dum país emergente como é o gigantesco Brasil, para o que é inevitável desprazar e substituir aos beneficiários da autarquia cultural galega e, já que logo, existe umha desconexom entre as instituiçons da Galiza e a realidade social, cultural e histórica que só paliará a regeneraçom conclusa da língua.
Aliás, na Galiza o problema é duplo, ora a falha de visualizaçom de produtos culturais da lusofonia, ora a falha de recepçom desses produtos vivendo de costas aos sotaques brasileiros, portugueses, moçambicanos, caboverdianos, angolanos, timorenses, etc. e resultando-nos alheia a nossa ortografia comum enquanto abraçamos a estranha. No fundo, o desprezo ao português parte na Galiza da auto-xenreira que os próprios galegos sentimos cara nós mesmos.
Camilo Nogueira
A nom recepçom das televisons portuguesas parte da própria mentalidade do Estado e desde o nascimento dos estado-naçom estes artelham e articulam as mentalidades e combatem pola cima umha UE democrática e dos povos e pola base os direitos nacionais das naçons sem estado, para manter as cadeiras douradas do Imperialismo burguês. O espanholismo nom pode permitir que Galiza tenha por si mesma capacidade de situar-se e relacionar-se co mundo por mor dumha língua comum.
O achegamento deveria fazer-se paulatinamente e sem perseguiçons nem imposiçons sobre os que quigerem continuar a empregar a norma actual. Neste sentido, desde a metrópole acutará-se com energia contra o regeneracionismo, como se desprende do terrível artigo II da Constituiçom espanhola em que se resume todo o espanholismo herdado do liberalismo burguês do XIX acrescentado polos deixes e achegas fascistas do franquismo.
Antom Fente Parada, Dezembro 2008[1] Estes preconceitos nom existem no Brasil ou noutros PALOP's, para a construçom do padrom português veja-se o livro de Fernando Vasques Corredoira: A construção do português frente ao castelhano. O galego como exemplo a contrário, Laiovento, Compostela.
[2] A ediçom 2008 celebrará-se mais umha vez em Ponte Vedra neste mesmo mês de Dezembro, o dia treze às 21:00h
[3] Etiqueta empregada num artigo por Rafael Dieste em que advoga por umha língua franca galego-portuguesa.
[4] Sarilhe, José Manuel (2007), A impostura e a desorientaçom na normalizaçom lingüística, Candeia Editora, Compostela, pp. 37-51.
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