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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Brasil fala a língua galega


Júlio César Barreto Rocha


"Omite-se o nome da Galiza, como se esta não
existisse, como se esta não tivesse história,
vida e cultura nacional."

(M. A. Fernán-Vello, poeta e galeguista)

Não se pode dizer que traz muitas facilidades dizer que o Brasil fala a língua galega, quando já pouco se discute que fale "português", dentre os filólogos. Também não se poderia afirmar que este é um tema novo. Ao contrário: são ao menos setecentos anos em que muitos estudiosos do Mundo, muita vez por ignorância quanto à "questão da língua galega", não põem em dúvida a existência de um idioma eminentemente "português", diferenciado em sua essência de suas raízes primeiras, "sendo oriundo diretamente do latim". São pelo menos setecentos anos desta injustiça histórica; uma injustiça cultural com um povo, mas também sócio-política, ademais de lingüístico-terminológica. Muitos por certo são contrários de antemão a nomear de "galego" à língua comum atual empregada por brasileiros, portugueses e galegos, valendo-se de artifícios pseudo-sociolingüísticos para isolar as várias faces do idioma. Contudo, um olhar mais detido e menos desdenhoso com a História e com a ideologia que inexorável conduz o resultado dos estudos --a cuja menção também não é nada nova-- poderá contribuir com alguma luz às investigações filológicas, no que concerne ao estudo do "português" como um continuum, de antes de abandonar a Península Ibérica a nossos dias, conciliando os ânimos dos lusitanistas munidos de "pré-conceitos" com o melhor dos argumentos: a inafastável História e uma penetração nas diretrizes das "razões de Estado", do caminhar da História em si, ou mais concretamente na História da Língua, e a partir do prisma das Políticas Lingüísticas dirigidas pelos Estados.

É certo que há neste texto imprecisões variadas, desde o título (uma vez que não é a terra que fala uma língua, mas seus habitantes). No entanto, outros elementos, dantes afastados, parecem mais importantes de realçar neste momento. Em primeiro lugar, deixo patente que estarei me referindo à "fala", não à escrita, quando imagino a "língua", seja de antes do século XIV (quando não há controvérsia quanto à nomenclatura), que hoje é admitida por todos como "galego-português" [1], seja a atual, seja aquela de antes da escrita no idioma que se diferenciava do latim. A língua na modalidade escrita, a partir da concepção de signo em Saussure, é ainda mais arbitrária que a língua na modalidade falada, portanto menos representativa. Assim, o que ganha primazia, aqui, para a consideração de língua, como veículo de comunicação (máxime na Idade Média), é a realização oral. A essência da linguagem é o diálogo, como se sabe. A fala é língua viva, a língua "verdadeira", e bem mais importante que a escrita, que veio a ser mera decorrência daquela. Assim, o fato de existir o desejo de procurar distanciar uma variedade lingüística da outra por intermédio de artifícios ortográficos não será relevado aqui. A Filologia, para aqueles que insistem em opô-la à Lingüística, pode prescindir dos estudos sobre a fala, mas vale-se constantemente de uma projeção do que deve ter sido a fala de antanho, a partir de textos escritos --mas não pode ignorar o fato de que a fala existiu antes de os textos ganharem um suporte físico mais estável, seja ou não mais "literário", como os poemas dos cancioneiros galego-portugueses.

E, a despeito de sabermos que fala difere de escrita, e sabermos que uma língua dispensa a representação gráfica, havendo ainda distinções internas maiores, consideradas como ritmo, prosódia, entonação, "sotaque", etc., muitos filólogos ainda cedem à tentação de tomar uma coisa pela outra. No texto de Fernández Rei "Posición do Galego entre as linguas románicas" [2], o ótimo professor constrói um texto de excelente qualidade histórica e, ao final, resolve alcançar uma determinada conclusão, querendo isolar a língua galega da portuguesa, ao confundir língua com variedade de fala, por intermédio de uma citação de Otero Pedrayo, que diz:

"O galego é moito mais fermoso que o portugués. Ten menos dificultades de pronunciación: é unha lingua románica, latina, amplia, simpática, aberta. Hai que conservala así."


O trecho desafortunadamente eleito obviamente não é um argumento filológico; reflete não apenas preconceito, mas dá ainda mais espaço a uma confusão secular que isolou o povo português de seus lingüísticos "pais" galegos: ressalta pequenas distinções de pronúncia, com um toque de patriotada, e dele resulta uma justificativa do tipo "rebelde sem causa": como o voluntarismo de um adolescente que deseja deixar a casa paterna. Claro que, no caso em tela, é o "pai lingüístico" que se rebela, pela voz do Otero Pedrayo em boca de Fernández Rei, contra o "filho lingüístico", que herdou a língua galega, quando se constituiu em Estado soberano no século XII, e deixou os pais esquecidos nas tramas do passado comum [3]. O reinado da Casa de Avis (1385-1580) em Portugal consolidou a idéia de que a língua, antes sabidamente geral, de ambos, galegos e lusitanos, era originariamente "portuguesa", existindo um período de "formação" apenas superado após ultrapassado o tempo de glória dos cancioneiros medievais.

Claro que já não é mais admitido pensar Otero Pedrayo pela ótica daquele viés momentâneo da citação supramencionada, ademais extraída de uma simples entrevista. Segundo o escritor Méndez Ferrín, em recente colóquio em Compostela [4], Pedrayo foi o primeiro que levantou a bandeira em favor dos portugueses [5]. Todavia, ainda não é este o nosso tema central. O que desejo relevar é o fato de que a língua portuguesa, como já se sabe de longuíssima data, não é propriamente portuguesa; ou seja, a língua falada em Portugal, queira-se ou não, veio de fora de suas fronteiras de hoje, e é anterior aos Cancioneiros galego-portugueses, anterior ao Estado português: nasceu numa terra que constitui o que ontem era a Gallaecia e ainda hoje é a Galiza, uma Comunidade Autônoma. Logo, o idioma aqui gerado e desenvolvido deve ser chamado de "galego".

O que atrai a atenção, neste caso, é a omissão histórica: como pode um fato tão simples ser mantido obscurecido, como um segredo de alcova, por tanto tempo, afastado dos livros e das discussões? Não podemos continuar fingindo que poucos estudiosos lembram de citar a Galiza quando se referem aos "falantes de português" que há no Planeta [6]. Esta omissão não é, como poderia parecer à primeira vista, fruto de mero esquecimento. Como tudo neste mundo, houve, e de uma maneira diversa continua havendo, bons motivos para "esquecer" este fato, que, analisado, não chega a ser tão estranho assim.

A Galiza forma uma nação concreta, que, juntamente com outras várias nações (Castela, Catalunha e o País Vasco), constitui o Estado espanhol. A Galiza é, em tudo, uma espécie de "país dentro de um país", com seus desejos, história, fronteiras, tradições, mártires e lendas diferenciados. A língua também era diferenciada desde o primeiro milênio de nossa era. Logo, trata-se aqui neste texto de fazer constar uma simples anotação: a língua dita "portuguesa" não é verdadeiramente portuguesa. Isto é: não é precisamente autóctone do território português, como se vangloriam por séculos "os pais" dos brasileiros. Durante quase um milênio foi muito interessante para Portugal ignorar a existência da Galiza, pois isto mantinha o mito de que a língua dita portuguesa fora gerada e era originária exclusivamente de seu território, de seus habitantes, que englobavam os primeiros lusitanos. Podiam, assim, com mais vã-glória, jactar-se os governantes, perante o povo, de serem portadores e guardiães do idioma de Camões [7], obtendo a união das gentes e o propósito comum que conforma um Estado-nação. Posteriormente viria a idéia de que levava "seu" idioma a terras as mais distantes do Globo.

Não podemos negar a bravura dos aventureiros marítimos, dos tenazes navegadores portugueses. No entanto, por uma questão de respeito à história, deve ser desvelado, com todas as letras, que, na realidade, os portugueses levaram consigo não um idioma próprio, mas a língua galega, o idioma que primitivamente era dos habitantes do Norte da Península, que ficavam para trás, esmagados pela histórica pressão castelhana, que "domou e castrou" os verdadeiros "pais da língua", os quais falam o galego até nossos dias.

Criado por derivação do latim, o galego recebeu contribuições germânicas, elementos árabes e componentes indo-europeus e pré-indo-europeus de todo tipo, ainda na Galiza, no antigo território da Gallaecia romana. Depois descendeu mais ao Sul, levado pelos galegos, e ocupou o Norte do espaço que somente muito depois pertenceria ao território global do que seria chamado Portugal, entre os Rios Minho e Douro, e em seguida se estendeu até o Mondego (limite da Gallaecia até avançada época), para finalmente se espraiar até o extremo Sul da Península, e agregar outras contribuições (moçárabes, inclusive). Podemos aqui traçar este paralelo: Assim como o Brasil, após receber o patrimônio lingüístico dos portugueses --assimilando componentes tupis ou africanos-- manteve a estrutura da língua dita "portuguesa", da mesma forma os portugueses admitiram outros elementos, mantendo a estrutura originalmente galega.

Com o tempo, a Galiza foi esmagada politicamente, enquanto Portugal desenvolveu uma literatura pujante, e sobretudo conquistou outras terras, distribuindo "sua" língua e sua cultura. Chegado o século XX, e com a queda do regime franquista, e com a Constituição espanhola de 1978, as comunidades nacionais da Espanha recobraram o direito à proteção de seu patrimônio lingüístico. Em 1981 surgiu o Estatuto da Comunidade Autônoma da Galiza [8], que expressamente devolvia à legalidade a língua galega, que, oculta por séculos, ficara restrita quase que somente ao meio rural, mas que, em tudo, lingüisticamente falando, é a mesma língua portuguesa, como atestam filólogos de todas as partes e de variada tendência.
Não podemos esquecer que Portugal é tido como o país que possui a fronteira "mais antiga e mais estável do mundo" [9]. Mas isso se considerarmos o Portugal-Estado como entidade política, soberana no conjunto das relações internacionais. Como nação, que é o conceito principal implicado na concepção de língua, a Galiza é naturalmente mais antiga que Portugal [10]. O fato de que a Galiza tenha sido reinado peninsular entre os anos de 926 e 929 não diz realmente tudo. Mais do que isto, os galegos se constituem como povo com identidade própria, diferenciada, criadora da língua, de hábitos e de tradições ainda antes disso. Confirmando essa idéia, diz o texto promocional de uma série de "encontros" que terá lugar neste ano de 1996, de 16 a 19 de dezembro, no Museu do Povo Galego:

"Na cidade galaico-romana de Bracara Augusta, hoje Braga, apareceu já há bem tempo uma inscrição dedicada a un neto do imperador Augusto. Nela surge à luz, pela primeira vez, o nome de Gallaecia. É a sua primeira aparição histórica documentada. Não é possível conhecer a data exata dessa inscrição, que pode ir desde o ano 5 antes de Cristo até o 4 depois de Cristo. Alguns dados fazem mais provável o ano 3 antes de C." ("O Feito Diferencial Galego na Historia")


Ora, a Galiza é um país de dois mil anos pelo menos; possui um idioma consolidado há mil anos aproximadamente. A despeito de existirem habitantes do Sul como povo diferenciado politicamente antes disso, o "Portugal", como um todo, existe como Estado há apenas 800 anos [11], e recebeu a língua evoluída do latim desde o Norte --como se deu também com o próprio castelhano e o catalão. Logo, o idioma português é verdadeiramente a língua galega que foi ligeiramente modificada, e não o contrário.

O ocultamento deste fato histórico se deve fundamentalmente a dois grupos de fatores. Por um lado, os "séculos obscuros" e o esmagamento político da Galiza, aliados à modéstia galega, e à natural soberbia da Pátria de Camões --que com os chamados "grandes descobrimentos" conduziu os estudiosos ao erro de encobrir outros fatos importantes do passado, submetendo a História à Sociolingüística. E, por outro lado, deveu-se esta situação à difícil convivência entre os impérios espanhol e português, que tinham no território da Galiza o ponto nevrálgico de seu relacionamento. Dois impérios globais em confronto necessitaram desta mentira secular.

Ilustrando o submetimento da História à Sociolingüística, recordo das palavras de Carvalho Calero [12], acerca dos "co-dialetos originais, português e galego". Segundo o eminente filólogo, "um adquiriu categoria de língua e o outro permaneceu em estado dialetal". Claro que este erro já foi corrigido pelo próprio Carvalho Calero, mas deixa entrever profundas marcas deixadas no espírito do povo galego, que possui a consciência, hoje, de que fala uma língua própria, de pertença original de seu território, e não um dialeto "derivado" do português ou mesmo do castelhano (como já aventaram, através dos séculos, estudiosos dedicados a defender um ou outro império). Afinal de contas, embora existindo apenas na modalidade falada, uma língua não pode ser rebaixada a estado de dialeto --e isto era uma necessidade do par de impérios, Portugal/Espanha: para manter seu equilíbrio, sempre inestável, por um lado omitiram a realidade da paternidade galega da língua que era e é comum às duas margens do Minho, e por outro lado castravam a modalidade escrita do galego.
Cabe destacar também que quando se fala no período de "formação da língua portuguesa", fala-se na verdade da língua galega formada, mas que, como qualquer língua, está em constante deriva, evoluindo em alguns traços, incorporando as necessidades lingüísticas dos falantes. Ressaltar o português em oposição ao galego-português antigo é, em grande parte, cumprir uma determinação política imposta pela antiga disputa territorial. A língua, em sua essência, permaneceu indomada, embora esmagada a modalidade escrita do tronco principal galego; fato jamais negado pelos estudiosos de todas as pátrias: "Galiza e Portugal apresentavam perfeita unidade de língua e literatura", disse o brasileiro Leodegário de Azevedo Filho [13]. No mesmo sentido, José Luis Rodriguez, Catedrático da Universidade de Santiago de Compostela, em sua tese de doutoramento, lembra que "en cuanto a la uniformidad, () constituye (el gallego-portugués) un bloque más unitario aún que el provenzal literario" [14].

Em um livro intitulado "Galicia y Santiago", publicado no México em 1749, fala-se a respeito de autores espanhóis, de expressão castelhana, descendentes de galegos, como "escritores de Galicia" [15], o que retrata a tentativa de, para reprimir a fala, e garantir a unidade de território, fixar a escrita em castelhano como a única possível, fato corrente até mesmo há poucos anos: o idioma cervantino era o apropriado à escrita empregada nas Universidades galegas, inclusive. Esta é uma verdade que, nestes últimos quatro lustros, apenas deu os primeiros passos em um agora inevitável processo de superação dos "séculos obscuros prolongados" [16].

Os brasileiros, quando buscavam auto-afirmação político-lingüística perante a antiga Metrópole portuguesa, admitiram, após polêmicas acerbas, cujo epicentro está em meados do século passado, que seu idioma era mesmo o "português", e não uma "língua brasileira" --por razões lingüísticas, mas destacando fundamentalmente o cunho histórico. Pelo mesmo motivo, podemos então admitir que o Brasil fala, à sua maneira, a língua galega, uma vez que o idioma que falamos, derivado do latim, é autóctone da Galiza, que transformou a língua dos romanos antigos, bem antes de terem-na os estudiosos como "língua portuguesa".

É claro que, tratando sincronicamente, poderemos divisar inúmeras possibilidades de interpretar a fala brasileira (já por demais polifacetada em seu próprio território) em dissonância com a galega: de séculos de distanciamento cultural quase que completo não poderia resultar uma equivalência absoluta [17]. Entretanto, no âmbito da diacronia, resgatando as origens de nossa língua compartilhada, é inegável a conclusão de que o Brasil, com traços característicos, fala o galego. Ademais, este trabalho se insere na conjuntura ideada de uma História da Língua que não pode, hodiernamente, eludir a política lingüística ditada pelos interesses de Estado. O erro de estudiosos dos séculos passados, a despeito da famosa admoestação de Nebrija [18], a dissimular o viés da interpretação que segue o caminho dos interesses econômico-imperialistas, permitiu o esmagamento de povos e a subtração de outras verdades límpidas como esta, que os filólogos devemos trazer à luz.

Claro que poderíamos manejar outros argumentos, que não apenas o elemento histórico. Lindley Cintra [19], apoiado em Leite de Vasconcelos, alude, por exemplo, à "influência de hábitos articulatórios de um substrato étnico" de celtas, que, sabe-se, deslocaram-se desde o Norte, "cuja presença Estrabão e Plínio assinalam nas margens do Tejo". Desta forma, o próprio filólogo português explicita que o sistema vocálico luso teria sofrido influxos desde o Norte galego. A presença das vogais mais escandidas no galego atual, que possui menos força ao Sul, em Portugal (cujos falantes obscurecem as ocorrências destes sons, como em "m'nino" ou em "p'ssoa"), permanece mais integral no território brasileiro, cuja população, em sua quase absoluta totalidade, encontra parâmetro distintivo do falante português justamente nesta vocalização mais "perfeita" nossa, por assim dizer, igualando-se ao falante galego --que inegavelmente mantém também mais acesa esta "característica celta". A língua falada na Galiza, que é a real Pátria da Língua, que instituiu o sistema vocálico e a musicalidade do galego, faz-se presente no Brasil. Portugal, deixando-se influenciar pela fala moçárabe (como querem alguns), de certa maneira "capou" a musicalidade galega aludida por Otero Pedrayo.
Agitam-se alguns estudiosos com a idéia, justamente, de que a influência moçárabe em território português, mais ao Sul de Braga, diferenciou a língua determinantemente do galego constituindo-a em "outra língua". No entanto, sob o prisma histórico-cronológico mais singelo, este argumento não resiste por muito tempo: Os moçárabes já se encontravam também mais ao Norte, no território que apenas séculos depois seria considerado "português", ainda no século VII, antes quinhentos anos de existir Portugal politicamente. Portanto, ainda no território da Galiza integral se formaram variantes futuramente tidas como distinções "portuguesas". Podemos dizer, então, que, quando falamos de "português", trata-se da "variante portuguesa" (ou meridional) da "língua galega", porquanto esta já existia antes de a grande e brava nação lusa se constituir em Reino independente; logo, o idioma que se fez mais ao Norte, e deslocou-se posteriormente para o Sul é ineludivelmente o galego.

A língua portuguesa de hoje não é mais que uma variante sulista da língua galega de antanho; um co-dialeto, é certo, mas que também poderíamos chamar de galego-português infra-Douro, o qual, mesmo no território de Portugal, possui distinção com a variante de entre Minho e Douro, e ainda com o Mirandês, ao Nordeste [20].
No entanto, este não é o caminho ajeitado para tirarmos as conclusões. Não nos podemos deter em tecnicismos fonéticos, morfológicos, sintáticos, lexicais ou mesmo de entendimento mútuo [21]. Desde sempre pôde-se brandir exemplificações em defesa da proximidade ou da distância entre dois falares, no propósito de provar, para os interesses de quem organiza os argumentos, a partir do corpus elegido, que tratamos ou não de uma mesma língua. O livro de Edith Pimentel Pinto "O Português do Brasil" [22] arrola uma boa dezena de argumentos que poderiam municiar os "isolacionistas" de existir uma hipotética "língua brasileira" (ou até várias) conforme os interesses de quem financia os estudos. Já há desse tipo de artifício pela Galiza. Nas atas das "Primera y Segunda Asembleas Lusitano-Gallega", da Real Academia Gallega", ocorridas há trinta anos, há constância de que existem as palavras "pulpo" e "paquete" na Galiza, diferentemente do que em Portugal --ergo fala-se aqui uma língua distinta do português [23].

Nem vou perder tempo em comentar este "argumento". Também a língua castelhana já se bateu com dificuldades semelhantes, com a possibilidade de existir o "andaluz", o "chileno", de Andrés Bello, ou o "idioma nacional dos argentinos", de Luciano Abeille. O que é notável é a persistência dessa gente pouco detida em estudos paralelos, nesta inglória tentativa de afastar dois povos e uma língua na Europa Moderna. Necessário mesmo, nos dias de hoje, é a aproximação lingüística, cultural e econômica. Para isso, precisamos especificar a concepção de "dialeto" e de "língua", que estão tradicionalmente vinculados a ideais geográficos, quantitativos e políticos. Leite de Vasconcelos trata de dialecto (meridional), subdialecto (estremenho) e variedade (de Lisboa) sem medo de nomear a língua "principal", que, para ele, naturalmente, é o português [24]. O Brasil de 1897 percebeu possuir "variados elementos para se constituir, senão novo idioma, pelo menos importantíssimo dialeto" [25]. Ora, sabedores de que o tronco principal é a língua galega, não a portuguesa, podemos dizer que Portugal falava um dialeto do galego, e o Brasil Colônia um subdialeto do galego-português. No entanto, devido a razões de natureza sócio-política, à importância cultural da nação brasileira, no âmbito das nações modernas, e até mesmo à expressividade do número de falantes brasileiros; devido também à distância geográfica que separa os três países, Brasil de Portugal e Galiza, e às razões históricas já aludidas, não vejo dificuldade em afirmar que o Brasil fala galego. Um dialeto mediado por Portugal; naturalmente com diversas preferências lexicais ou fonéticas, que distingue, amplamente, mesmo no Brasil, um falante do Estado do Rio Grande do Norte de um falante do Estado do Rio Grande do Sul, mas não deixando de ser um "importantíssimo dialeto" --como diria Taunay-- ligado diretamente à língua troncal galega --não um subdialeto ou uma variedade, qualificações inconcebíveis, porquanto o Brasil comporta cerca de 80% dos perto de 200 milhões de falantes da língua galega distribuídos pelo mundo.

Além do argumento de destacar a verdade histórica, penso que podemos arrolar outros argumentos que creio serem interessantes, a partir de vários pontos de vista, que poderiam, de certa maneira, redimir, sociolingüísticamente, a histórica injustiça perpetrada contra o povo galego, devolvendo o rótulo de "galego" à nossa língua comum. Jamais poderíamos é admitir uma teoria que servisse tão-somente a interesses de impérios frustrados, interesses até justificáveis quando se busca, por exemplo, afastar dois povos em guerra perpétua através dos tempos, como os falantes de lugares como Sérvia e Croácia, que, igualmente por razões de Estado, por motivações de lutas efetivamente sérias (seja entre etnias, religiões ou comerciais), após a implosão da contigüidade de interesses, exacerbam diferenças de fala e de escrita.

E determinar o nome do idioma não era trabalho tão complexo ou controverso. Gabriel Alomar [26] opõe três distintos modos para denominar um idioma: por sua origem; ou por sua implantação em um estado soberano; ou por sua expansão territorial. Nessa perspectiva tripartida, a língua oficial da Espanha-Estado poder-se-ia denominar ou "castelhano", ou "espanhol", ou "hispano-americano", sem deixar de ser o mesmo idioma difundido pelo mundo. Contudo, salta aos olhos que a denominação originária, "língua castelhana", obedece a um caráter mais científico, porquanto, com admitir a segunda opção, inevitavelmente abrangeríamos, ampliando um equívoco, outras línguas também pertencentes à territorialidade espanhola (afinal o galego, o vasco e o catalão também são "línguas espanholas"); e, enfim, com a terceira hipótese, no conjunto da "expansão", perdemos outras vertentes das antigas conquistas do povo espanhol, como Filipinas ou Guiné-Equatorial, para ficar no paradigma castelhano. Além disso correríamos o risco de, mais uma vez, confundir os inevitáveis vários dialetos, nascidos do confronto de outras realidades culturais, com a língua matriz, considerando dialeto como sendo língua.

O critério da origem é, desde já, o mais acertado, portanto. Mas, por outro lado, é lógico que, ao dizer que o Brasil fala galego, não podemos esquecer a consideração histórica prestada ao idioma "português". Afinal, o que conhecemos hoje como "língua portuguesa" é assim considerado não apenas porque o povo galego foi esmagado politicamente pelo centralismo espanhol, mas complementariamente e sobretudo porque o povo português conquistou espaço na comunidade planetária, tanto literária como politicamente --espaço, aliás, dividido hoje com a presença do Brasil no concerto das nações de economia sólida, e com a literatura brasileira ganhando terreno; e brevemente espaço repartido com a pujante literatura galega, de Méndez Ferrín, de Suso de Toro, Manuel Rivas, Fernán-Vello e tantos outros.

Estas condições eram inexistentes até há bem pouco. Novamente cito Carvalho Calero [27], que assim comenta a consideração de algumas décadas atrás, de Leite de Vasconcelos, ao denominar o galego "codialeto do português":

"Tão evidente como que, para o grande filólogo português, o galego não se deriva do português, e portanto não pode chamar-se de dialeto seu, é o fato de que aquele autor reputa como insensata a doutrina dos galegos que olham ao português como um dialeto do galego, quando aquela língua possui uma importância cultural e política muito superior (). Um e outro seriam irmãos; mas de hierarquia social distinta." (Grifo nosso.)

Há que anotar que esta postura decerto foi abandonada pelo autor, posteriormente. Contudo, tal preconceito social caracterizando a língua e confundindo o idioma com consideração política da soberania de um povo, dificultou os estudos, e hoje provoca reação negativa por parte de alguns galeguistas, que se rebelam contra o ditado de nomearmos inadequadamente a língua como se fosse dialeto, recusando mesmo, alguns, o fato de possuirmos o mesmo instrumental de comunicação, em repúdio a esse maléfico, mas absolutamente normal (conquanto constructo histórico), vício de origem quanto aos estudos. As línguas, afinal, não são culpadas das vicissitudes por que passam os povos que as empregam. Fosse hoje Lisboa cidade da periferia de uma hipotética Grande Galiza, e não a ex-capital de um portentoso Império Transcontinental, embora já sendo este um fato pertencente ao passado, ninguém hesitaria em chamar "variedade lisboeta da língua galega" ao se referir à fala dos portugueses que foi o paradigma mundial por um bom tempo [28].

Língua, como se sabe, dispensa o governo e até o território nacional, podendo sobreviver apenas na tradição oral dos povos (as línguas indígenas do Brasil, v.g.), podendo ser recuperada integralmente na modalidade escrita, como o grego e o iídiche, por exemplo. Divulgada com mais eficiência, agora que a Galiza será tida como uma Comunidade Autônoma na União Européia, com território, povo, costumes, governo autonômico, idioma normativizando-se, pouco a pouco, não há por que não recuperar esta injustiça histórica, que o Rio do Esquecimento, situado geograficamente nas cercanias de onde nasceu nosso idioma comum, obnubilou por séculos a fio.

Dizer "o português no mundo" não é de forma alguma uma impostura, mas é sem dúvida uma imprecisão terminológica. Alguns galegos provavelmente desconsideram este rótulo de "galego" conferido à nossa língua comum, não exatamente devido ao "auto-ódio", mas sim com algum traço de eurocentrismo, uma vez que haveria preponderância dos dez milhões de habitantes de Portugal sobre os dois milhões e setecentos mil galegos --além obviamente da consideração universal da pujante literatura portuguesa camoniana e moderna, também contraposta à galega, que apenas desponta, enquanto o Brasil permanece obscurecido, numa imagem nebulosa e distorcida de samba, futebol e pobreza.

A idéia é de, rompendo este vício eurocentrista, natural mas nocivo a uma real integração cultural-lingüística (e também sócio-econômica), podermos iluminar as maiores razões de afirmar a língua galega presente no mundo. Concluindo este texto, após os parcos argumentos que alinhavei com imperícia, quero comentar ligeiramente acerca da possível reação dos implicados diretamente nesta necessidade política de decisão terminológica. Para os brasileiros, sei que seria muito natural admitir este fato histórico, trazido à tona recentemente com maior ênfase, de que falamos uma língua que não é realmente "portuguesa", mas um dialeto brasileiro da língua galega. Os argumentos seriam os mesmos que concluíram antigamente que falávamos a mesma língua dos portugueses. Se levarmos em conta o ideal da resistência natural aos antigos colonizadores, isto é, a inescusável necessidade de a ex-colônia repudiar politicamente a antiga Metrópole --não apenas um direito, mas um dever nacional, o que era mais expressivo até poucas décadas atrás com o Portugal-Império--, verificaremos ser bastante aceitável admitir que o Brasil, a seu modo, e com sua diversificada caracterização, fala o idioma galego [29].

Para os galegos, penso que admitir que "o Brasil fala galego", concedendo sem mais problemas o "rótulo", seria sobretudo retomar a bandeira de certo nacionalismo nobilitante, arrebatada das esquerdas pelas "novas direitas". É natural estarem os galegos confrontados com os interesses portugueses, após séculos vivendo "de costas viradas", em que Portugal apoiou, ao menos pela omissão, os interesses do império vizinho, seu semelhante, seu igual. É significativo o indício deste fato, retratado na Galiza, onde a imposição do espanholismo que ainda resta de índole franquista propicia que, espíritos menos iluminados, ao chamar alguém ou algo de "lusista", suponha agregar algum matiz pejorativo. Este obstáculo ao reintegracionismo lingüístico-cultural (e de consideração político-econômico) seria retirado.

Para o conjunto dos espanhóis devemos verificar os aspectos macro-econômicos, e considerar os novos momentos da integração pela via da União Européia, e no marco da cúpula ibero-americana clausurada em Santiago do Chile em 11 de novembro último. Os países do Mercosul terão acesso à Europa pela mão da Espanha e de Portugal. Inexiste entre os países ibéricos a animosidade de antanho. Em 1998 a Galiza e Lisboa estarão interligadas por autoestrada [30]. Os antigos impérios português e espanhol possuem agora inextricáveis interesses, estão indissociados, em marcha célere de rompimento de fronteiras, agora com interesses comuns de enfrentar o gigante americano [31]. Despovoa-se a Galiza rural, dando lugar a uma Comunidade urbana e internacionalista [32]. Decerto aceitarão com certa facilidade --inconcebível à Espanha do franquismo-- este viés galeguista. Jorge Urrutia apresenta de seu modo esta visão:

"La expansión de las lenguas minoritarias se acompañará del mejor conocimiento de la común si pedimos, a la vez, el estrechamiento de las relaciones culturales entre las distintas comunidades. El cultivo de la lengua común es el que puede difundir por el término con referencia sólo al número de hablantes de la lengua en la que se expresan. Tenemos que recomendar la enseñanza de las lenguas no sólo en las regiones que las hablan; es preciso un conocimiento mínimo de todas las lenguas de España por todos los españoles. Una medida políticamente difícil, pero posible." [33]

Claro que em Portugal temos a maior dificuldade: estão os portugueses na situação de Édipo, que, tendo conhecimento de haver matado seu "pai" lingüístico, nestes séculos de omissão, não poderão facilmente admitir este "pecado capital" e abrir mão do poder que detêm, no âmbito das nações planetárias. Como afirma o sociolinguista galego Celso Álvarez Cáccamo,


"nesta questão de Estado, não se luta efetivamente contra um estado sem implicar o outro no confronto. Por isso, aqui e agora, a resistência efectiva passa por articularmos uma submissão rebelde ao âmbito português, ao seu estado e à sua cultura: por ver-nos como uma florescente excrescência sua, não do Reino da Espanha nem da cultura espanhola. A resistência passa por criarmos novos vínculos transfronteiriços que vulnerem a lógica histórica da dominação espanhola; por impormos sobre Portugal (não sobre Espanha) a nossa diferença" [34]


Não é difícil prever que para atingir a meta da reintegração da Galiza com o espectro luso-afro-brasileiro, poder-se-ia voltar as costas momentaneamente a Portugal, abraçar mais o Brasil e ex-colônias portuguesas [35], abrindo mão do eurocentrismo, e rejeitando o reducionismo de siglas como PALOP, que possui índole nitidamente discriminatória.

Seja como for, a simples discussão, a crua polêmica acerca do nome da língua comum, não é um exercício vão: é benéfica por si só: leva à consciência de existir um fio de unificação lingüístico-cultural, que vem de longe; que procede dos celtas e se reúne com os índios tupis na América, por exemplo, ou com os bantos, na África. Não podemos desdenhar as razões históricas da ideologia segregacionista, que impede alguns de dizer abertamente que o cidadão galego fala a língua portuguesa, ou que muitas vezes força um brasileiro mais "revoltado" de admitir que fala "português". Porém podemos afirmar com plenitude que o cidadão brasileiro fala o galego --à sua maneira, obviamente. Não um galego da coiné perfeita galego-portuguesa dos cancioneiros, que este galego não existe mais, nem em Portugal, nem no Brasil ou mesmo na Galiza. Mas o galego das variedades potiguar, gaúcha, minhota, ferrolana. Não devemos aceitar é a manutenção deste consolidado erro terminológico secular pacificamente. Dizer galego, dizer português, dizer "portugalego" ou brasileiro é questão de somenos, mas de necessária discussão entre nós.

Para rematar, gostaria de mencionar Carlos Drummond de Andrade, o poeta maior brasileiro, que, em seu poema "Canção Amiga", musicado por Milton Nascimento, diz:

"Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo.
E saúdo velhos amigos."

Os portugueses não deixam de ser velhos amigos do povo brasileiro. No entanto, cabe resgatar os amigos galegos, que são amigos ainda mais originários (e não trazem consigo o travo da opressão imperialista), pelo fato de serem os geradores da língua nossa, hoje pertencente a muitos povos do mundo por igual --não importando que rótulo tenha, pelas razões maiores de Estado que advenham da dinâmica dos interesses dos Países e de seus cidadãos.


NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Conhecida como "a doutrina do galego-português", propagada por Carolina Michaëlis.

2. Francisco Fernández Rei (1988). "Posición do Galego entre as linguas románicas".
In: Verba - Anuario Galego de Filoloxía. N. 15. Universidade de Santiago de Compostela. Vigo. pp. 79-107.

3. De fato, o Professor reelaborou este texto básico do isolacionismo galego, e deixou de lado esse "argumento", embora não o tenha substituído por outro melhor.

4. Colóquios sobre Otero Pedrayo. Faculdade de Filologia. Universidade de Santiago de Compostela. Outubro de 1996.


5. Vide também Isaac Alonso Estravís (1988). "Otero Pedrayo e Portugal". In: Nós - Revista Internacional Galaicoportuguesa de Cultura - n. 7. Pontevedra. pp.39-45.

6. Já Fernão de Oliveira, em sua Gramática da Língua Portuguesa, de 1536, refere-se ao "Cancioneiro Português", evitando mencionar o galego. Mesmo hodiernamente, diversos encontros cujo epicentro era a língua portuguesa, ainda que realizado com estudiosos conscientes da "questão galega", omitiam discussões que envolvessem temas tão prementes como a normativização da variedade nortista do "português europeu". (Vide, v.g., as Actas do I Simpósio Luso-Brasileiro de Língua Portuguesa Contemporânea. Coimbra. 1968.)

7. Camões, cuja origem familiar é galega, como se sabe.

8. Firmado por Sua Majestade o Rei, D. Juan Carlos I, e o Presidente do Governo de então, Leopoldo Calvo-Sotelo.

9. Orlando Ribeiro. A Formação de Portugal; ICLP; Lisboa. 1987. p.21.

10. Ver mais em Julio Cabrera Varela. La nación como discurso. El caso gallego (La estructura del sistema ideológico nacionalista: el caso gallego). Centro de Investigaciones Sociológicas. Siglo Veintiuno de España, s.a. 1992.

11. A Lusitânia foi "pacificada" pelas tropas de César em 61 a. C.

12. Ricardo Carballo Calero (1966). Gramática Elemental del Gallego Común. Galaxia. Vigo. 1979.

13. Revista Internacional Galaicoportuguesa de Cultura Nós. Abr 87/Dez 88. Pontevedra. 1988.

14. Cancionero de Joan de Airas de Santiago - Edición y Estudio. Verba, Anuario Galego de Filoloxía. Anexo 12. Universidade de Santiago de Compostela. Vigo. 1980. p.47.

15. Este livro, que encontrei em uma biblioteca particular em Chantada, é de autoria de "Pascuasio de Seguin (de la Compañia de Jesus)", e datado precisamente de 1. de dezembro de 1749. Reúne sete discursos "em favor" dos galegos, defendendo a lealdade destes perante a Coroa de Castela, inclusive ao lutar contra os portugueses que invadiam o território "espanhol". Isto demonstra a antigüidade das atitudes de intelectuais que buscaram afastar os povos galego e português, mesmo no século XVIII, que serão os precursores dos "isolacionistas" de hoje, num momento em que não há mais essa necessidade geopolítica de afastamento.



16. O idioma oficial, hoje, da Universidade de Santiago de Compostela, é o galego, uma diretriz presente no artigo 8.1 de seus Estatutos, aprovados no 22 de dezembro de 1993.

17. Contam os expertos que Shakespeare, que está "ausente" há menos tempo, se redivivo, pouco reconheceria do inglês falado atual.

18. A recorrente frase "A língua é companheira do Império", de Nebrija.

19. Lindley Cintra. Estudos de Dialectologia Portuguesa; Sá da Costa Editora. Lisboa; 1983. p. 53.

20. Lindley Cintra (op.cit.) pontifica: "A influência de Moçárabes no território português está documentada do século VII ao XII e do Algarve a Entre Douro e Minho. [A mais moderna e completa exposição do assunto (Moçárabes e Mouros) deve-se a M.Viegas Guerreiro, que utilizou e ampliou as notas de José Leite de Vasconcelos, em Etnografia Portuguesa, volume IV, etc.]".

21. Há dialetos, por exemplo, no interior do idioma alemão que não permitem o mútuo entendimento. E há mútuo entendimento entre os falantes de norueguês, danês e sueco, que utilizam línguas diversas. Cf. Ricardo Muñoz Martín; Língüística para traducir. Teide. Barcelona. 1995.

22. Textos Críticos e Teóricos - 1- 1820/1920- Fontes para a teoria e a história (EDUSP; 1978).

23. Américo Lopes de Oliveira. "Da Galiza e de Portugal - O galego e o português: Principaes diferenças Morfológicas entre ambas as línguas". Actas y Comunicaciones. Madrid; Editora Nacional. 1967.

24. Mapa Dialectológico do Continente Português; Lisboa; 1897. p.16.

25. Visconde de Taunay. "O português de Portugal e o do Brasil". In: PINTO, Edith Pimentel. Op. cit.

26. Escritor e político espanhol (1873-1941). Cit. in: Castilla Libre. Boletín del Movimiento Popular Castellano. N. 06. Salamanca. p.17.

27. Ricardo Carballo Calero. Ibidem.

28. É interessante anotar que a norma empregada hoje na ONU e na UNESCO para o idioma português é a brasileira, encaminhada pelo Palácio do Itamarati.

29. O português Agostinho dos Santos, em um livro intitulado Vida Conversável (p.52), acredita que "Portugal tratou o Brasil muito bem quando foi colônia e, se não tivessem sido os portugueses, o Brasil não se teria constituído". Este ponto de vista, que é o oficial na pátria de Camões, obscurece o extermínio de milhões de indígenas, a arrecadação de toneladas de ouro e outros minerais preciosos das "minas gerais", e, inclusive, a devastação de florestas inteiras, praticamente eliminando das terras brasileiras o próprio pau-brasil,a árvore que teria emprestado o nome ao País --dado seu consumo intenso na Europa, nos primeiros séculos da colonização.

30. Cf. o jornal O Correo Galego, de 7 de março de 1996; p. 9.

31. Também esta idéia não é recente. A União Ibérica de 1580-1640, com recuperação da soberania portuguesa reconhecida pela Espanha em 1688, vem sendo continuamente lapidada.

32. Manuel María. "A morte da parroquia rural na Galicia tradicional". In: El Correo Gallego, de 25 de setembro de 1996.

33. "Cuatro lenguas para la Literatura Española". (Capítulo 6.) Cuadernos de Comunicación - 2. Universidad de Sevilla. 1989.)

34. "Pátria e Língua, por última vez". In: A Nosa Terra, 25 de julho de 1996. N. 736. p. 27.

35. Diz Xosé Manuel Sarille: "Tanto no Projeto do Arco Atlântico como no do Eixo (e o projeto Galiza-Norte de Portugal), desenvolvem-se idéias e linhas de atuação no campo econômico e social e sempre se deixa a jeito de coletilha um ponto 'cultural' que não se sabe em que consiste e que no caso do Eixo fala só de patrimônio monumental." ("Os intelectuais galegos, Portugal e Brasil." In: Luzes de Galiza. N. 25. Verão, 1994. Edicións do Castro. Santiago de Compostela).

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