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domingo, 18 de abril de 2010

Um mundo sem transnacionais

GUSTAVO DUCH GUILLOT

Nova tirada de aqui. A traduçom é própria.

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Hai hoje 14 anos, 250 líderes camponeses de Via Campesina, em representaçom dumhas 80 organizaçons de todo o planeta, celebravam a sua segunda assembleia, em Tlaxcala (México), quando recebêrom notícias do Brasil. No Estado amazónico de Pará, em Eldorado dos Carajás, mais de 1.500 mulheres e homes do MST (Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra) tomárom e bloqueiárom a estrada principal para exigir aos governos federal e estatal que adoptaram medidas urgentes a favor da reforma agrária (num país onde 2% dos proprietários é dono de mais da metade da terra fértil do país, mentres mais de 100.000 famílias dormem sob carpas pretas em campamentos de ocupaçom de terras). Sobre as quatro da tarde, 155 membros da Polícia Estatal Militar atacárom sem piedade. Assassinárom a 19 pessoas, 69 resultárom feridas e, delas, três morrêrom uns dias mais tarde.
Catorce anos despois, a matança orquestrada polos grandes proprietários da regiom com o consentimento do Estado segue sem resposta. Os disparos em Pará retumbárom na reuniom de Tlaxcala e, desde entom, cada 17 de Abril milheiros de camponeses e camponesas, e muitas outras pessoas que apoiam ao mundo rural, organizam acçons e eventos para recordar a situaçom de opresom e marginaçom que parece que lhes tem asignado o sistema capitalista.
Como explica Via Campesina na sua convocatória deste ano –e pom o exemplo de Honduras, onde várias pessoas do Movimento Unificado de Camponeses do Aguám tenhem sido assassinadas tamém pola sua defesa da terra que lhes permite cultivar os seus alimentos–,
a repressom sobre as organizaçons camponesas nom cessa e repetem-se, idénticos, muitos 17 de Abril por todo o mundo. Porém ao abuso do terratenente soma-se o poder hegemónico das empresas transnacionais sobre toda a cadena alimentária. Controlam os mercados das sementes, dos agrotóxicos, dos fertilizantes, da auga, da genética animal e tamém, como umha nova tendência, estám-se fazendo –muitas vezes da mao de terceiros países– com o controlo de muita terra produtiva. Monsanto, Cargill, Carrefour, Archer Daniels Midland, Nestlé, Syngenta, entre outras, som os nomes que Via Campesina cita como senhores dumha agricultura globalizada responsável do tránsito de milhons de agricultores e agricultoras dos seus campos aos subúrbios das cidades, da autosuficiência a engrossar as bolsas da pobreza, mentras –com os seus modelos intensivos– afundam na ferida sobre a saúde do planeta.
Así, Via Campesina e os suus aliados centram todas as suas acçons e vindicacons em assinalar o imenso dano que estas corporaçons ocasionam, rompendo de passo o mito que adoita situar em competência à agricultura dos países ricos com a agricultura dos países do Sul. Para reforçar as energias na ofensiva contra as transnacionais e a favor dum mundo sem monsantos, Via Campesina lembra algumhas acçons que demostram que as cousas se podem cambiar e aponta para outras que se devem mudar.
Face o avanço dos transgénicos como tecnologia de dominaçom do camponesado e de pérdida de biodiversidade para a natureza, Via Campesina destaca como a pressom da sociedade civil da Índia conseguiu deter o passado Janeiro a aprovaçom dumha berinjela transgénica da que é co-proprietária Monsanto. Ou como a ocupaçom que figérom em 2006 da sede de investigaçom de Syngenta [produtora de muitos dos sulfatos empregados nas nossas ribeiras e nas nossas patacas, N.T.] em Brasil para alertar de que em Paraná esta transnacional estava sementando ilegalmente várias hectáreas de cultivos transgénicos levou a finais de 2009 a conseguir que esses terrenos se reconverteram num centro para a ensinanza e a investigaçom da agroecologia. Na Europa, junto às vindicaçons contra o recente decreto de aprovaçom de novas variedades transgénicas, estám-se coordinando muitas atividades para desvelar o poder que sobre a nossa agricultura exercem os grandes supermercados. Os dados que desvelam som muito significativos, a vez que preocupantes: neste momento, os grandes supermercados absorvérom 80% do mercado varejista [minorista em castelhano, N.T.] na Europa. Em Reino Unido, por exemplo, umha de cada sete libras que se gasta no comércio desembolsa-se numh a soa grande superfície, em Tesco, que, como os seus companheiros de pódium, aproveita a desregulaçom do comércio internacional para comprar as suas mercadorias nos mercados mundiais a preços mais baixos, ocultando no preço das etiquetas os custos sociais e ambientais. “Quando um produto chega ao mercado –explica Susan George–, perdeu toda a memória dos abusos dos quais é a conseqüência, tanto no plano humano como no da natureza”.


Com esta realidade, sem acesso aos recursos naturais, sem atençom política, as opçons passam pola movilizaçom, e essa é seguramente umha das características insígnia de Via Campesina desde a sua criaçom em 1993. Como a mesma organizaçom explica, barridos polo furacám da globalizaçom, sintírom a necessidade de recuperar com umha voz própria e única o seu espaço de participaçom social. As suas propostas, baixo a premissa de que a alimentaçom é um direito, nom umha mercadoria para as transnacionais, debujam umha paisage possível, justa e formosa.

Gustavo Duch Guillot é coordinador da revista ‘Soberanía Alimentaria, Biodiversidad y Culturas’. Autor de ‘Lo que hay que tragar’

Ilustraçom de Alberto Aragón

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